Neste romance histórico, um grupo de rendeiras cria um código com pontos, linha e agulha para se comunicar por meio de véus, colchas e toalhas de mesa, numa época em que as mulheres não tinham voz.
Um véu de renda chega às mãos da jovem e rebelde Alice, no Rio de Janeiro, trazendo uma história de violência ocorrida cem anos antes no interior de Pernambuco, no vale do rio Pajeú, envolvendo suas antepassadas. Tudo começa na casa das Flores, ancestrais de Alice, que segundo a crendice do povo carregam uma sombria maldição: todos os homens que cruzam o seu caminho morrem prematuramente.
"Sempre foi um ato de rebeldia, mesmo que invisível.
Sabíamos que havia um risco no que fazíamos, e talvez fosse justamente o perigo de sermos descobertas, mesmo que pequeno a princípio, mesmo que pouco evidente aos olhos de todos, entrelaçado nos fios dos desenhos da renda que tão discretamente exibíamos em nossos lenços e véus, que fez crescer em nós a ousadia para nos arriscarmos mais e mais.
Não éramos todas parentes, mas estávamos unidas pela arte de combinar linha e lacê e transformá-las em padrões únicos. Aqui, neste pedaço de terra onde pequenos detalhes importam mais do que grandes acontecimentos, onde o chão de barro é tão marcado quanto o rosto de minha Tia Firmina – ambos esculpidos pelo tempo e pelas mágoas –, onde o destino das mulheres é reto e seco, tal qual um avesso imperfeito da única trama guiada exclusivamente pela nossa vontade: a renda."