Retorno de Natalia Borges Polesso aos contos, gênero que a consagrou no meio literário com Amora, Condições ideais de navegação para iniciantes investiga, com destreza e sensibilidade, indivíduos que buscam viver para além das próprias particularidades.
As narrativas curtas de Condições ideais de navegação para iniciantes exploram personagens que estão descobrindo como existir em um mundo intrigante, mas muitas vezes hostil. Tratando das experiências formadoras de um indivíduo na infância, o cotidiano de pessoas neurodivergentes ou das vivências LGBTQIAPN+ no Brasil contemporâneo, Natalia Borges Polesso tensiona os limites da linguagem para construir tramas que ressoam aos leitores mais fiéis de sua obra, ao mesmo tempo que se arrisca por novos territórios.
No conto “Uma boa pessoa”, por exemplo, diante dos vários lapsos da namorada, a personagem Marcela enfrenta a própria imagem de “pessoa boa demais”, definida a ponto de fazê-la ser vista como alguém que não precisa ter seus desejos e limites respeitados. Para isso, ela encara a necessidade de aprender a dizer não e de se impor, mesmo que isso signifique afastar pessoas que sempre estiveram presentes em sua vida.
Jáao longo de “Eu não sei o que é o this do que os sweet dreams são feitos”, a autora usa a linguagem neutra para compor uma personagem não-binária em uma delicada investigação sobre sonhos e desejos. Em “A Velha Asna e as lésnicas de motocicleta”, Polesso desconstrói clichês ao explorar a relação entre um grupo de mulheres motociclistas, que demarcaram seu domínio em sua cidade e se aceitam na forma que escolheram viver.
O elemento unificador dos textos é a fugidia água —seja em uma geleira, no mar, na tempestade ou até mesmo no chuveiro, criando pequenos universos que envolvem o leitor na prosa única de umas das vozes mais surpreendentes da sua geração.
“A força desbravadora das histórias —e da linguagem —de Natalia Borges Polesso nos desloca para um encontro com a turbidez e a revolução, a vastidão e o átomo das intimidades e relações, das perguntas despropositadamente essenciais, da felicidade e perigos de sentir.”—Stênio Gardel, autor de A palavra que resta